domingo, 1 de dezembro de 2013

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Manoel de Oliveira

Panorama Cinematográfico de Manoel de Oliveira

Falar em Manoel de Oliveira significa apresentar um cineasta com uma obra vastíssima mas também um cineasta muitas vezes odiado, ainda que, por outro lado, amado por muitos – especialmente por amantes de cinema de autores, onde os filmes são minuciosamente cuidados.

Para conhecerem um pouco da trajectória cinematográfica do autor, deixo-vos aqui algumas sinopses e trailers dos seus filmes.

VALE ABRAÃO
Sinopse
Baseado na obra homónima de Agustina Bessa-Luís, uma das mais conceituadas autora contemporâneas portuguesas, Vale Abraão narra a história de Ema, uma mulher de uma beleza ameaçadora. 
Para Carlos, o marido com quem casou sem amor, "um rosto como o seu pode justificar a vida de um homem". 
O seu gosto pelo luxo, as ilusões que tem na vida, o desejo que inspira aos homens, fazem-lhe valer o epíteto de "A Bovarinha", por conta da sua semelhança com Madame Bovary, da obra de Flaubert. 
Conhecerá três amantes, mas esses amores sucessivos não conseguem suster um sentimento crescente de desilusão que a leva a definir-se como nada mais que "um estado de alma em balouço". 
Ema morrerá - "acidentalmente? Quem sabe?" - num dia de sol radioso, depois de se ter vestido como se fosse para ir a um baile.

A CARTA
Sinopse
"A Carta" é uma adaptação para o cinema e para a Paris actual, de 'La Princesse de Clèves', de Madame de LaFayette ou, mais precisamente, uma montagem de trechos da referida obra. A estrutura narrativa do filme caracteriza-se por sua simplicidade, mas a organização interna dos planos é construída com precisão, minuciosamente.
Pedro Abrunhosa e a bela Chiara Mastroianni estão óptimos e convincentes.
Mademoiselle de Chartres teve sua primeira desilusão amorosa: ela foi abandonada pelo mesmo jovem com que teve um relacionamento aberto.
Uma noite, Madame Silva, amiga de sua mãe e esposa do director da Fundação Gulbenkian, a apresenta ao renomado médico, Dr. Jacques de Clèves. Ele apaixona-se imediatamente pela jovem quando a vê escolhendo um colar em companhia da mãe, num famoso joalheiro da Praça Vendôme. A jovem aceita ser esposa do médico, mesmo não sentindo nenhuma paixão por ele.
Esta paixão estará voltada para um jovem cantor da moda, Pedro Abrunhosa. Acreditando que este amor está desabrochando na sua filha, Madame de Charles pouco antes de morrer, alerta a jovem para ser prudente.
A jovem deseja apenas ser fiel e merecer a confiança que o marido deposita nela. Agora, sem ter mais os conselhos da mãe, ela visita regularmente uma colega de escola que vive num convento em Paris. 
Cada vez mais pressionada pelo que sente por Pedro Abrunhosa, que a tenta fazer viver essa paixão, Mme de Clèves decide revelar os seus sentimentos para o seu marido, na tentativa de que ele a ajude nesse dilema. Mas o seu marido, que confirmava assim a sua suspeita, morre pouco tempo depois de conhecida a verdade.
Viúva, Mme. de Clèves não se casará com o cantor: ela havia perdido alguém uma vez no jogo do amor e tem medo de perder outra vez um homem que é adorado por outras mulheres. Sem dizer a ninguém, Mme de Clèves desaparece.
Sua amiga religiosa recebe um dia uma carta da África: Mme. de Clevès partiu com um grupo de missionários; foi socorrer as populações martirizadas pela guerra civil, a doença e a fome.
OS CANIBAIS
Sinopse 
Adaptação do conto "Os Canibais", da autoria de Álvaro Carvalhal e com música original de João Pães, “Os Canibais” é um filme-ópera em tons de comédia sarcástica no qual toda a acção se desenvolve em torno da música interpretada pelos actores que representam a alta sociedade aristocrática do séc XIX. 
Apaixonada pelo belo e misterioso conde d'Aveleda, Margarida desdenha a corte de Dom João, que queria casar com ela. Na noite de núpcias o conde revela o seu terrível segredo. Horrorizada, Margarida atira-se pela janela. O conde deita-se ao fogo da grande lareira. 
Na manhã seguinte, os pais da noiva, ignorando tudo, comem os restos do conde "assado" na lareira durante a noite. Quando se dão conta, querem fugir dali desesperados, mas a notícia de uma 'fabulosa herança' reconcilia-os com a vida. 
"Esta história gosta do sangue azul, gosta da aristocracia, aquele que quiser escutar-me deverá fazer comigo a peregrinação através da alta sociedade, aquela onde em vez de falar se canta." (Voz de um 'cicerone' com um violino, no filme). 

Finalmente, não se esqueçam de deixar aqui algum comentário sobre algum filme que conheçam, se gostam do cineasta, se já tinham ouvido falar, se gostariam de ver algum filme, etc...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

José Saramago

Memorial do Convento

Como já vos disse anteriormente é deveras complicado falar de certos artistas...

Por isso, deixo-vos aqui um breve vídeo sobre a sua pessoa e obra. Salienta-se aqui a publicação da obra que lhe trouxe, inicialmente o reconhecimento da sua carreira, o “O Memorial do Convento”, publicada a primeira vez em Novembro de 1982. Desta obra, fez-se uma ópera com o nome de “Blimunda”, o nome de uma personagem, estreada no teatro lírico de Milão em 1990. Para quem quiser saber mais sobre o assunto, deixo-vos aqui o saite do Instituto Camões com referência ao evento:

Jangada de Pedra

Outras obras importantes se seguiram, entre as quais, “A Jangada de Pedra”, ou o “Ensaio sobre a Cegueira”, passadas para o cinema. A primeira numa produção mais local, diríamos peninsular, já que é uma produção luso-espanhola sem grande eco a nível internacional – encontra-se na biblioteca da EOI de Almendralejo (ainda que se fale muito em Espanhol – a segunda, uma produção mais sonante com actores como Julianne Moore e Gabriel Garcia Bernal e realizado por um cineasta tão importante como Fernando Meirelles, responsável pelo “Jardineiro Fiel”.

Ensaio sobre a Cegueira


Para concluir, dizer-vos que, o melhor de uma autor é poder lê-lo... Cada um tem o seu estilo e cada leitor o seu gosto... Eu adorei o "Ensaio sobre a Cegueira" e outro que se chama "Todos os Nomes"... E vocês? O que têm a dizer?


Fernando Pessoa

Agora que já conhecem um pouco mais do poeta Fernando Pessoa e do seu desdobramento de personalidade, podemos ver alguns exemplos da aplicação da sua obra. Assim como outros poetas portugueses tiveram o seu eco na cultura brasileira - o inverso também acontece e essa relação de reciprocidade também existe entre os restantes países de expressão lusófona. Vimos Camões cantado pelo grupo rock brasileiro dos anos 80/90 Legião Urbana, aqui, apresento-vos uma versão cantada por Maria Bethânia. Já sei que estamos aqui para falar de cultura portuguesa, mas porque não acrescentar informações sobre o Brasil - não são irmãos os dois países? Maria Bethânia é outro dos grandes nomes da MPB - Música popular Brasileira e irmã de Caetano Veloso que muitos conhecem e que vimos aqui no blog a cantar Amália Rodrigues. 
Esta cantora lançou, em 1997, o CD "Imitação da Vida" - gravado ao vivo em São Paulo - onde canta, entre outras canções inspiradas em poemas de Pessoa e não só, a canção "Mensagem", uma fusão entre o poema "Todas as cartas de amor são ridículas" de Álvaro de Campos, Heterónimo de Pessoa e a canção "Mensagem" composta por Aldo Cabral e Cícero Nunes, compositores brasileiros, nos anos 40. 
Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ah! De surpresa, tão rude,
Nem sei como pude chegar ao portão
Lendo o envelope bonito,
O seu sobrescrito eu reconheci
A mesma caligrafia que me disse um dia
"Estou farto de ti"
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria, será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais

Todas as cartas de amor são ridículas,
Não seriam cartas de amor, se não fossem ridículas
Também escrevi, no meu tempo, cartas de amor como as outras, ridículas
As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas
Quem me dera o tempo em que eu escrevia, sem dar por isso, cartas de amor ridículas
Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas

Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque, na incerteza, eu meditava
Dizia: "será de alegria, será de tristeza?"
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha uma carta nos traz
E assim pensando, rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais

Quanto a mim o amor passou
Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar
E não me volte a cara quando passa por si
Nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor
Fiquemos um perante o outro
Como dois conhecidos desde a infância
Que se amaram um pouco quando meninos
Embora na vida adulta sigam outras afeições
Conserva-nos, escaninho da alma, a memória de seu amor antigo e inútil

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Como sabem, F. Pessoa, o próprio, ou seja, hortónimo, publicou, em vida, apenas uma obra integral: "Mensagem" - na qual retoma a glória portuguesa de antanho e o poder marítimo desse povo na altura dos descobrimentos. Aqui surge outro dos poemas mais bonitos, não só de Pessoa mas da cultura portuguesa: "Mar Português". Um clássico, um poema que reflecte com alma o sofrimento do povo na altura dos descobrimentos. Uma vez mais terei de propor uma versão brasileira da adaptação musical. Para que vocês vejam a importância de Pessoa na vastidão da lusofonia.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma nao é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Se quiserem informações sobre o Bojador, é só clicar no nome "Bojador", no poema.

Não consegui identificar quem era o cantor brasileiro que propões esta versão mas pareceu-me bastante interessante, nomeadamente, a exposição fotográfica com belíssimas paisagens portuguesas.
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Concluamos esta reflexão pessoana com um monstro, um gigante: o gigante Adamastor ou seja, O Monstrengo:

O monstrengo que está no fim do mar,
Na noite de breu ergueu-se a voar ;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme, disse tremendo,
“El-Rei D. João Segundo!”

“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o monstrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu, e disse,
“El-Rei D. João Segundo!”

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu ;
E mais que o monstrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”

Na simbologia do vocabulário português, encontramos, pois, as duas palavras: Monstrengo e Gigante, associadas a dois dos maiores poetas de Portugal, respectivamente, Pessoa e Camões. Cliquem nos nomes para conhecer essa relação e a sua respectiva simbologia!

Terminemos pois recordando que já tínhamos visto outro poema de Pessoa na voz de uma cantora, também ela digna de menção: O Cavaleiro Monge cantado por Mariza.

Bom, já sabem, deixem algum comentário por aqui, ok? E não hesitem em levar para o Glossário do curso vocabulário novo. Abraços!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CAMÕES

Sobre Camões haveria muitíssimas coisas para dizer mas apenas deixarei aqui um dos seus poemas mais actuais... Vocês já viram o quão actual era aquele que vimos no curso sobre a mudança dos tempos, a mudança do mundo...

O poema seguinte, talvez, para mim, o mais bonito de Camões, foi recitado, declamado e escrito mil e uma vezes por aí...

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,

Deste poema e doutros desse período camoniano, diz-se haver já uma porta aberta para o estilo barroco, por causa do jogo de palavras e antíteses... Mas o que nos interessa aqui? Pois o aspecto actual e autêntico do amor: quem não sofreu já do amor sentimentos tão contraditórios como estes?

O poema é tão actual que o grupo brasileiro "Legião Urbana", na minha opinião o melhor grupo pop-rock brasileiro dos anos 80/90, lançou em 1989, no seu disco "As Quatro Estações" a música "Monte Castelo" na qual mistura os versos do "Amor é fogo que arde sem se ver" de Camões com elementos dos "Coríntios 13" da primeira epístola do Apóstolo Paulo. 

Resultado, uma bonita canção de amor, bem ao gosto dos anos 80/90 mas com uma letra espectacular que nunca perderá o seu valor.
Os Lusíadas


Vocês puderam ver também no curso virtual e na Wikipédia que a grande obra de Camões foi, sem dúvida alguma, a epopeia “Os Lusíadas”, uma obra épica com 10 cantos com aproximadamente 110 estrofes em oitava, com versos decassílabos. 
Nesta obra, narra-se, através da viagem de Vasco da Gama à Índia, a importância do povo Português naquela altura e os grandes momentos da sua história. 



O Velho do Restelo


Deixo-vos aqui, pois, um pequeno excerto da obra, a do Velho do Restelo.
O Velho do Restelo é uma personagem criada pelo poeta no canto IV da obra. O Velho do Restelo simboliza os pessimistas, os conservadores e os reaccionários que não acreditavam no sucesso da epopeia dos descobrimentos portugueses, e surge na largada da primeira expedição para a Índia com avisos sobre a odisseia que estaria prestes a acontecer:



94
Mas um velho, de aspecto venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:



95
- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas! 



96
- "Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos e de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio engana!



97
- "A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias?



Os Lusíadas, Canto IV, 94-97


A expressão «Velho do Restelo» é actualmente utilizada, conforme a intenção inicial de Luís de Camões, para representar o conservadorismo.


A Ilha dos Amores


Outro dos momentos muito controversos da obra é a chamada Ilha dos Amores, uma oferta da deusa Vénus aos marinheiros portugueses como prémio pela sua valentia, coragem e sucessos. Essa parte da obra foi, durante muito tempo e, sobretudo durante a ditadura salazarista, censurada e eliminada das publicações dado o carácter erótico de certas passagens. Para quem gosta de ler e de poesia, porque não dar uma vista de olhos na obra e buscar esses curiosos e importantes momentos da literatura portuguesa?

Sonetos
Para não me estender demasiado, deixarei aqui também alguns dos sonetos mais conhecidos de Camões : “Sete anos de Pastor Jacó servia” :


Sete anos de Pastor Jacó servia



Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.



Os dias, na esperança de um só dia, 
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.



Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,



Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!



E finalmente, um hino à memória daquela que teria sido a sua amada, morta no famoso naufrágio do rio MeKong, a chinesinha Dinamene.



Alma minha gentil, que te partiste



Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.



Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.



E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,



Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.



Bom, vou ficar por aqui e, já sabem, deixem algum comentário sobre isto tudo por aqui, ok? Abraços a todos!

CURIOSIDADES SOBRE O FADO

"Obrigada! Obrigada!"

Falar no fado é uma tarefa inglória, sobretudo quando se quer ser breve e surge a necessidade de se escolher o mais importante. Repete-se constantemente o nome de Amália Rodrigues – como evitá-lo? – e por isso colocarei aqui uma das suas canções: Que Estranha Forma de Vida. O Curioso desta canção está no facto de se ter repercutido na cultura lusófona e, por isso ter sido cantado também por Caetano Veloso – um dos nomes mais importantes da MPB – Música Popular Brasileira.

Estranha forma de vida

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.

Amália Rodrigues
No vídeo de Caetano que vos proponho aparece Amália – pois é, ela foi ver o seu concerto. Aqui peço para repararem num pormenor: a forma como Amália agradece e depois mexe as mãos! Infelizmente não consegui encontrar nenhum vídeo da Amália a dizer “Obrigada! Obrigada!”, a levantar os braços e mexer as mãos simultaneamente. É uma imagem clara para todos os portugueses, é um elemento cultural inesquecível e muitas vezes, ao ouvir “Obrigada! Obrigada!” pensamos nisso. 
Fado de Lisboa
O Fado de Lisboa é de forma tradicional o mais conhecido e aquele que tem alcançado mais ampla divulgação a nível mundial. Não há consenso no momento de se definir as origens deste estilo musical uma vez que se referem elementos oriundos dos cânticos Mouros que permaneceram no bairro da Mouraria; do Lundum de origem africana por intermédio dos escravos que foram para o Brasil; mas também das Modinhas muitos populares nos séculos XVI e XVII. No entanto, seria impensável falar no fado lisboeta sem referir a Severa, fadista do século XIX que lançou as bases do fado contemporâneo e cuja vida repercute-se em inúmeros aspectos da cultura portuguesa, literária, musical, histórica, etc.. 
Como vimos na plataforma do curso e aqui, anteriormente, o outro grande nome do fado lisboeta, aquele que levou o fado à sua expressão mais internacional, é sem dúvida alguma Amália Rodrigues. No entanto, a actualidade abriu as portas para a fadista Mariza, nascida em Moçambique, dona de uma voz única e de um carisma que se embebe do fado para o viver a cada momento, como se fosse o último para assim o partilhar com quem a ouve.
Neste exemplo que vos proponho, Mariza canta um poema da obra "Mensagem" de Fernando Pessoa Ortónimo - ou seja, ele próprio e não um dos heterónimos com que desenvolveu grande parte do seu trabalho.
Cavaleiro Monge
Composição: Fernando Pessoa
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Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por casas, por prados
Por quinta e por fonte
Caminhais aliados

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por penhascos pretos
Atrás e defronte
Caminhais secretos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por prados desertos
Sem ter horizontes
Caminhais libertos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por ínvios caminhos
Por rios sem ponte
Caminhais sozinhos

Do vale à montanha
Da montanha ao monte
Cavalo de sombra
Cavaleiro monge
Por quanto é sem fim
Sem ninguém que o conte
Caminhais em mim.

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Fado de Coimbra

Muito ligado às tradições académicas da respectiva Universidade, o fado de Coimbra é exclusivamente cantado por homens e tanto os cantores como os músicos usam o traje académico: calças e batina pretas, cobertas por capa de fazenda de lã igualmente preta. Canta-se à noite, quase às escuras, em praças ou ruas da cidade. Os locais mais típicos são as escadarias do Mosteiro de Santa Cruz e da Sé Velha. Também é tradicional organizar serenatas, em que se canta junto à janela da casa da dama que se pretende conquistar.

No vídeo seguinte temos o grupo conimbricense “AEMINIUM” a cantar o Fado “Coimbra, Menina e Moça” na Serenata Monumental da Queima das Fitas de 2001 que, por um lado, lembrar-vos-á claramente a serenata da queima das fitas que vimos ao falar de Coimbra e, por outro, o fado “Lisboa, menina e Moça” que muitos já ouviram comigo.


Fado Vadio


O artigo que vos proponho a seguir, publicado no jornal brasileiro FolhaOnLine, fala-nos da existência do Fado Vadio que, a par dos tradicionais fados de Lisboa e de Coimbra, mantém também ele, viva a tradição fadista portuguesa.

Esqueça o bacalhau seco e salgado e o fado de Amália Rodrigues, a dama da música portuguesa. Muito além dos estereótipos, nas mesas e nas madrugadas, pulsa uma Lisboa a ser descoberta por quem tem fome de novidades.

Há várias maneiras de penetrar a alma dessa capital e compreender melhor as influências que herdamos de nossos colonizadores. A poesia de Fernando Pessoa e a prosa de José Saramago, a estética do cineasta Manoel de Oliveira, as belas e conservadas igrejas católicas e os castelos centenários sempre encantam os turistas. Mas, na próxima vez que for à Lisboa, dê uma chance à cultura popular.

Uma de suas expressões mais autênticas é o fado vadio, o equivalente ao samba de morro brasileiro. Longe dos holofotes turísticos, é a música cantada pelo povo e para o povo. É uma experiência bem diferente da vivenciada nas tradicionais casas de show de fado, onde profissionais fazem malabarismos vocais noite após noite – geralmente em restaurantes caros e com comida ruim.

O fado vadio é cantado nas tascas, bares despretensiosos que servem cerveja gelada e comidinha com preços também no diminutivo. E quem solta a voz por aqui? Advogados, cozinheiras, lixeiros, empresários, arquitectas... até mesmo cantores profissionais, quando estão de folga. Sempre amparados por dois músicos com longa rodagem na noite, que fazem a base para os lamentos do fado, com um violão e uma guitarra portuguesa.

Nessa modalidade importam menos a qualidade do cantor e mais a emoção que ele transmite. Mas isso não se traduz num festival de desafinados. O fado vadio não é um show de calouros, muito menos um karaoke.

Antes, é preciso entender que o fado, que encontra sua origem na palavra destino, não se resume a um estilo musical para os portugueses. Ouvir um fado é presenciar e saber dividir um lamento, uma confissão de tristeza, de dor ou de angústia. Mas também de felicidade e gozo.

É perambulando de tasca em tasca noite adentro que muitos amadores se tornam profissionais com o tempo. Outros, que após alguns copos de cerveja tomam coragem, se levantam e pedem para desafiar em verso os violonistas – sem ensaio, mas com a letra decorada na alma. O espectáculo, invariavelmente emocionante, está garantido.

Agora já sabem, deixem aqui o vosso comentário final, nem que seja para me insultar por ter colocado demasiadas informações... :)